terça-feira, 30 de junho de 2015

As Sacerdotisas de Afrodite


A perda da nossa Deusa do amor, de seus templos, suas sacerdotisas, tornou a arte de amar uma manifestação tão particular que, geralmente, nos esquecemos que essa arte, como todas as outras, é aperfeiçoável. O peregrino que se dirigia ao templo de Afrodite em Corinto, provavelmente aspirava a esse grau de perfeição, quando celebrava os mistérios da Deusa com uma das inúmeras sacerdotisas em serviço ali.
Por várias razões sabemos muito pouco sobre essas sacerdotisas, muitos estudiosos especializados em Civilizações Antigas, recusam-se a transformar seus valores, e mencionam "prostitutas" ao invés de "sacerdotisas", algumas mulheres que abandonavam os afazeres domésticos para dedicarem-se ao Templo realizando atividades consideradas sagradas, incluindo o prazer e união sexual. Essas sacerdotisas não correspondiam, absolutamente, a idéia que eles tinham de sacerdócio. Em vez de modificarem seus preconceitos, preferiram traduzir "sacerdotisas" por "prostitutas".
Outros grandes colaboradores para sabermos tão pouco sobre essas sacerdotisas foram os cristãos fanáticos que exibiram um ardor especial em destruir os templos, as estátuas e os textos que nos possibilitaria entender e apreciar esse tipo de sacerdócio.
A Grécia (das civilizações antigas, a que mais se mantém próxima do mundo moderno) foi um dos locais mais agraciados pelas sacerdotisas de Afrodite, no entanto, sabemos do intercâmbio de influências e culturas que enriqueceram os gregos.
Afrodite era a versão grega da Deusa Ishtar dos babilônios, ou da deusa Inana dos sumérios, ou Astarte dos fenícios. Todas tinham em comum a preservação do princípio central e divino da vida: a união do macho com a fêmea através do desejo.
Canto, dança, música, contadores de estória, reza e atividade sexual, para essas civilizações e algumas anteriores a essas, eram atividades de caráter sagrado por manterem seus participantes em estados além do ego ocupando igual importância na vida do indivíduo.
Estas atividades além de garantirem o treinamento e conhecimento do corpo, da criatividade, da intuição também proporcionavam alegria, prazer e comunhão espiritual.
As mulheres, nessas civilizações anteriores, embora voltadas aos afazeres do campo, da cerâmica, da tecelagem, podiam oferecer-se a Deusa em rituais exclusivamente femininos.
A posição social e o desenvolvimento de cada atividade estavam pouco ligados com as distinções de sexo.
No entanto o cultivo do corpo, o aprimoramento sexual e as danças pélvicas eram atividades que pertenciam às mulheres porque preparavam-nas para a fertilidade, gestação e parto - já que naquela época as mulheres não contavam com antibióticos e nem assistência hospitalar. Assim não havia a alienação que há hoje quando acreditamos que o sucesso de um parto depende do serviço médico e de hospitais equipados.
As Sacerdotisas de Afrodite da Grécia Antiga, embora mais modernas, menos camponesas e talvez com uma instrução intelectual maior, foram possíveis pelo legado transmitido desde os tempos anteriores de uma mulher para outra por gerações inteiras...
A união portanto, permaneceu como analogia mais poderosa da Unidade Fundamental ou Divina, sem a qual existe somente a morte, desolação e hostilidade entre homens e mulheres. Essa união era a cerne desses cultos. Depois da repressão ao culto de Afrodite, que acabou sendo compreendido, pelos cristãos, como a mesma coisa que as hostis orgias de algumas regiões daquele período, sua arte não mais foi transmitida de uma mulher para outra, de uma sacerdotisa para uma peregrina ou de Safo para suas discípulas.
Para a maioria de nós hoje, a sexualidade é, certamente, um dos maiores prazeres da vida, mas não necessariamente uma forma de experiência espiritual. Todavia, para a mulher que cultua Afrodite, sua vida espiritual está ligada à sua vida sexual. Para esse tipo de mulher o encontro sexual é a mais profunda das experiências humanas, uma revelação de sua própria profundeza. É portanto, não apenas uma fonte de alegria, mas também um veículo para o conhecimento de seu íntimo. Para essas mulheres o discurso de abstinência sexual, não faz o maior sentido, pois elas vêem o mundo de outra forma. O encontro com o sagrado e com a pureza não está na abstinência, mas na união sexual profunda com o parceiro, seja ele casual ou não. Nos dias atuais, com tantos fetichismo, fantasias, pornografias e etc... é preciso coragem para render-se ao desejo sexual e entregar-se ao ato com uma dedicação e disposição verdadeiramente em sintonia com os atributos de Afrodite, pois para isso requer maturidade, refinamento, sensibilidade e treinamento diários.
" O ato de fazer amor é um ritual que convida a deusa do sexo estar presente. O amor é a afeição que podemos sentir por nossos parceiros, as preparações que fazemos para o ato sexual, as palavras evocativas, os toques, o ambiente e as preliminares visam evocar a ninfa do sexo, de modo que o que ocorre com as pessoas é inspirado e incutido por esse espírito. Sem a presença da ninfa o sexo se torna mecânico. Falta-lhe alma, porque a alma exige que tratemos do aspecto temporal, bem como do eterno. Se deixarmos de lado nossa dimensão vertical, nossos sentimentos profundos e nossas maiores aspirações durante qualquer atividade, inclusive a sexual, a alma ficará de fora e teremos uma experiência funcional que parecerá vazia." - A alma do Sexo

Bibliografía: Meditações Pagãs; Dance e Recrie o Mundo; A Alma do Sexo; Todos os Nomes da Deusa; Tantra Culto a Femininlidade .

Soraya Mariani