segunda-feira, 28 de setembro de 2015

Emanações da Buxa



 "Somos reflexo do inteiro universo, florindo, expandindo, contraindo, pulsando, respirando... desconhecemos os nossos mistérios porque é infinito o universo dentro de nós... Gratidão pela minha vida, pela pulsação em mim...
Segundo dia de meu sangue sagrado, estava aqui sentindo aquele incômodo que normalmente reconheço como dor e de uma hora pra outra me deu uma coisa de "e se eu resolver sentir isso como outra coisa"? E isso mudou a minha percepção na hora, e o que eu sentia era meu poder emanando do útero, como uma luz dourada avermelhada que se expandia em meu ser em todas as direções.
Fase da "bruxa", essa conhecida vulnerabilidade, quando as coisas do mundo externo deixam de fazer sentido e quero encontrar em mim esse tempo-espaço só meu, embalo de rede alçada no universo, entre as estrelas, onde tudo é música e silêncio, onde lágrimas são iguais a sorrisos, onde meu canto emana de mim como água que borbulha e faz cosquinha no umbigo do universo.
Sagrada mãe, grande mãe, que o seu corpo não seja mais terra estrangeira onde pisamos, mas solo sagrado onde depositamos nossas vidas como bênçãos. Gratidão pela eterna acolhida em seu seio, gratidão por nos cuidar como sempre crianças, gratidão por ser sua menina e sem medos ou culpas poder brincar.
Aqui, nesses recantos da criação, recolhemos materiais para a nossa arte, lã colorida de nossos amores, pincéis de coragem, pedacinhos de papéis de gratidão. Disponho tudo diante de mim para esse grande quadro, na obra da minha vida me reconheço DEUSA, cada um é o único escolhido para mudar o mundo do seu jeito, colorindo-o com um pouquinho mais de cor.
Me alço além das montanhas, além do ar que se respira, além da paisagem de neve que vejo da minha janela, o branco de minha alma se ergue até um mundo onde possa se expressar com cor, desde menina que brinco com cores incoloríveis, sonhando o dia em que meus olhos poderiam vê-las. Já ouvi o canto das formas, já viajei por cachoeiras coloridas, já sonhei o mar onde um dragão se escondia, prenúncio de amplidão à minha mente criança.
Hoje me reconheço mulher, a abundância do universo escorre de mim e se manifesta na minha vida em todas as suas formas, e olha que a minha vida é só uma, meu centro em meio a toda essa dança que contemplo muda, deuses e deusas que me rodeiam brincando de criar por sua vez outras danças de universo.
Ah, vida que gira comigo ciranda, riso de menina, frio de barriga em gangorra, vento que mexe no meu cabelo até que nasçam flores, vi o nascer do sol nessa primeira madrugada e meu coração se encheu ainda mais de luz.
Estou, existo, aqui agora meu canto é de passarinhos e esperança, meu sangue hoje passeia por outras cores, experimenta ser essa viagem e flui com a música que eleva... Ah, gratidão mais uma vez por essa escrita, que nesse fluir se manifesta, sou dela a convidada, ela já estava aqui quando eu cheguei e me vi no gesto. Apenas acompanhei o movimento que já acontecia, o preencher essa página de tudo o que eu quero, o descorrer meu mundo até então desinteressante em verso e ver o conteúdo de meu ser se desdobrar de dentro, fenômeno do nascimento das estrelas que brota de dentro desse ser universo.
Eu sou. Sou tudo, sou mundo, sou cume, sou entrega. Me entrego a essa missão de flurir, florir-fluir-nutrir, com a intenção de abrir espaço para essa escrita, essa corrente que se alarga e se manifesta percorrendo a terra, subindo colinas e descendo cascatas, pegando carona no trem de ferro até o próximo vale florido, onde danço com flores e abismos até o pôr-do-sol"


Larissa Lammas Pucci