domingo, 17 de abril de 2016

Cultivar a Felicidade!


Desde os primórdios da humanidade, que o ser humano procura a felicidade como a terra seca clama pela água. É fácil conquistá-la? Nem sempre! Os poetas homenagearam-na, os romancistas descreveram-na, os filósofos contemplaram-na, mas grande parte deles saudaram-na apenas de longe.
Os reis tentaram dominá-la, mas ela não se submeteu ao poder deles. Os ricos tentaram comprá-la, mas ela não se deixou vender. Os intelectuais tentaram compreendê-la, mas ela confundiu-os. Os famosos tentaram fasciná-la, mas ela contou-lhes que preferia o anonimato. Os jovens disseram que ela lhes pertencia, mas ela disse-lhes que não se encontrava no prazer imediato, nem se deixava encontrar pelos que não pensavam nas consequências dos seus atos.
Alguns acreditaram que poderiam cultivá-la em laboratório. Isolaram-se do mundo e dos problemas da vida, mas a felicidade enviou um claro recado a dizer que ela apreciava o cheiro das pessoas e crescia no meio das dificuldades.
Outros tentaram cultivá-la com os avanços da ciência e da tecnologia, mas eis que a ciência e a tecnologia se multiplicaram e a tristeza e as mazelas da alma se expandiram.
Desesperados, muitos tentaram encontrar a felicidade em todos os cantos do mundo. Cansados de procurá-la, alguns disseram:
“Ela não existe, é um sonho de sonhadores que nunca acordam.”A felicidade bateu à porta de todos. Deu sinal de vida na história dos abatidos e dos animados, dos depressivos e dos sorridentes, dos que representam e dos que vivem sem maquilhagem. Sussurrando aos ouvidos do coração, ela disse baixinho: “Hei! Não estou no mundo em que você está, mas no mundo que você é!” Confusos gritamos: “O quê? Importa-se de falar mais alto?” Como a voz de uma suave brisa ela balbuciou delicadamente: “Não me procure no imenso espaço nem nos recantos da Terra. Viaje para dentro de você mesmo. Eu escondo-me nas vielas da sua emoção, no cerne do seu espírito...”A maioria das pessoas não compreendeu a sua linguagem. Esperavam que ela se manifestasse como o ribombar dos trovões. Mas ela ama o silêncio. Sorrateira, ela aparece quase imperceptível nas curvas da vida e nas coisas singelas da existência. Por não a conseguirmos compreender, navegamos sem leme. Desprezamo-la, mas ela resistiu. O resultado é que a felicidade habitou na alma de muitos por pouco tempo e na alma de poucos por toda a vida.
A felicidade tem muitas filhas e filhos: o amor, a tranquilidade, a sabedoria, a alegria, a paciência, a tolerância, a solidariedade, o perdão, a perseverança, o domínio próprio, a bondade, a autoestima. Nunca se viu uma família tão unida!
Se maltratar alguns dos seus membros, tem grandes hipóteses de perder a família toda. Se ferir o amor, perderá a tranquilidade; se a tranquilidade o abandonar, perderá a perseverança; se a perseverança partir, perderá a sabedoria; se a sabedoria se for, a autoestima dirá adeus.
Precisamos aprender a conhecer o mundo da emoção para cultivar a felicidade. A felicidade é amiga do tempo. É preciso treinar a emoção para ser feliz: aprender a gerir os pensamentos, proteger a emoção nos focos de tensão, pensar antes de reagir, colocar-se no lugar dos outros, perseguir os sonhos, valorizar o espetáculo da vida. Por que razão é que a solidão, a baixa autoestima, a ansiedade, a fadiga e a irritabilidade têm sido companheiras de jovens e adultos? Porque eles nunca treinaram as suas emoções para mudar os pilares da sua história. Muitos ainda vendem uma ideia inadequada do que é ser feliz.

Augusto Cury