sexta-feira, 24 de junho de 2016

O Resgate do Sagrado Feminino


“As mulheres honram o seu Caminho Sagrado quando se dão conta do conhecimento intuitivo inerente à sua natureza receptiva. As mulheres precisam de aprender a amar, compreender, e, desta forma, curar-se umas às outras. Cada uma delas pode penetrar no silêncio do próprio coração para que lhe seja revelada a beleza do recolhimento e da receptividade". — Jamie Sams
 
As Ancestrais viviam em contato direto com a natureza, reverenciando os seus ciclos, através das mudanças de estação e em profunda gratidão por tudo o que a Grande Mãe lhes oferecia.
Como essa ligação era profunda, as pessoas, apesar das dificuldades de sobrevivência, eram felizes e se sentiam preenchidas, pois, conseguiam ouvir sua voz interior.  As mulheres, principalmente, honravam a sua natureza, o seu ritmo biológico e o grande poder que detinham pelo fato de serem geradoras de vida. O ventre, simbolizado pelo grande Cálice, representava um Templo Sagrado. Os homens, também, reverenciavam a mulher por esse grande poder. Para os povos antigos, a menstruação era um dom dado às mulheres, pelas Deusas, para que elas pudessem criar e perpetuar a própria vida. A síncronicidade do ciclo lunar e menstrual, refletia o vínculo entre a mulher e a divindade, pois ela guardava o mistério da vida no seu corpo e tinha o poder de tornar real o potencial da criação.
Nas sociedades matríacais, as Sacerdotisas ofereciam seu sangue menstrual à Deusa e faziam suas profecias durante os estados de extrema sensibilidade psíquica da fase menstrual. No passado, eram realizados rituais de renovação e purificação nas Cabanas ou Tendas Lunares, onde as mulheres se isolavam para recuperar as suas energias e abrir seus canais psíquicos para o intercâmbio com o mundo espiritual. A vida da mulher moderna levou-a à perda do contato e sintonia com seu corpo e com a energia da Lua.
Para restabelecer essa sincronicidade natural, a mulher deve se reconectar à Lua, observando a relação entre as fases lunares e seu ciclo menstrual. Compreendendo o ciclo da Lua e a relação com o seu ritmo biológico, a mulher contemporânea poderá "cooperar" com o seu corpo, fluindo com os ciclos naturais. 
Trabalhando o resgate do Sagrado Feminino, através do conhecimento e valorização do seu  próprio potencial, permite que a mulher resgate o seu poder pessoal e espiritual e com isso possa desempenhar de forma mais saudável e feliz os seus papéis de mãe, esposa, mulher e profissional.
 
A Mulher é a Terra. A mulher é um "pequeno território" que tem a virtude de dar a luz a outros seres, para que sigam o seu caminho. O planeta Terra é a Mãe: o seu corpo nos oferece o ar para respirarmos,  a terra para semear o alimento e a água para beber.  Assim, num grande corpo todos os seres prosperam: animais , vegetais e minerais. Todos possuem uma integração e colaboração mútuas com a existência. A Mulher gera. A Terra abençoa.
 
Os gregos chamavam a essa vida grande da qual fazemos parte de GAIA, a Mãe Terra. O organismo vivo, espiritual e inteligente que nos deu forma, o corpo, o abrigo da centelha divina. Tudo nela é regido por uma sabedoria que gira em torno do DAR E RECEBER. Trata-se de uma lei natural. As plantas fornecem o oxigénio, em troca recebem o carbono. A terra nutre com o seu alimento e em troca devemos devolver os seus adubos naturais, assim como fazem as árvores quando as suas folhas caem no chão... O corpo da mulher tira da terra os seus nutrientes através da alimentação, e quando a menstruação chega é um sinal de que aqueles nutrientes não foram necessários para a formação de um possível bebé, então ela menstrua devolvendo para a terra o que a ela foi dado. 
" Na natureza nada se perde, nada se cria , tudo se transforma" - Lavoisier. Compreender a Natureza é compreender a si mesma e se integrar com a natureza de seu corpo, com a natureza do seu espírito. 
É importante observar como fluí a energia em sintonia com a Lua e os seus ciclos, no período do ciclo lunar em que ocorre a menstruação. A menstruação é um período de recolhimento, assim como a Lua Nova é um período de introspecção, propício ao retiro e à reflexão. A Lua Cheia proporciona expansão em que o corpo está em sintonia com as energias naturais, é o período em que da fertilidade. O verdadeiro sentido dessa conexão ficou perdido no mundo moderno. Muitos dos problemas que as mulheres enfrentam, relacionados com os órgãos sexuais, podem ser equilibrados respeitando a necessidade de retiro e a ligação ao poder da natureza. 

"As mulheres honram o seu Caminho Sagrado quando se dão conta do conhecimento intuitivo inerente a sua natureza receptiva. Ao confiar nos ciclos dos seus corpos e permitir que as sensações sejam sentidas e valorizadas. As mulheres necessitam de aprender a amar, a compreender, e, desta forma, curar-se umas às outras. Cada uma pode penetrar no silêncio do próprio coração para que lhe seja revelada a beleza da receptividade". Trecho sobre a Tenda da Lua, de Jamie Sams.

A Deusa
 
Muito antes da era Cristã, há 20 mil anos pelo menos, a imagem da Deusa foi eternizada nos desenhos das cavernas, nas pedras ou nas estatuetas paleolíticas e neolíticas. Essas memórias reproduzem mulheres com ventre grávido, quadris largos, grandes seios. São formas relacionadas à fertilidade e referem-se ao poder gerador da terra e do feminino. A divindade feminina já teve seu lugar honrado em antigas sociedades primitivas, nas quais era reconhecida por sua capacidade de gerar e nutrir a vida, assim como a Mãe Terra.
 
A sociedade ocidental formou-se sob a égide da mitologia judaico-cristã e se afastou de nossas origens. Fomos criados condicionados por uma cosmologia desprovida de símbolos do Sagrado Feminino.
 
Descobertas arqueológicas realizadas em sítios neolíticos testificam a existência de uma sociedade agrícola pré-histórica bastante avançada, na região da Europa e Oriente Médio, onde homens e mulheres viviam em harmonia e o culto à Deusa era a religião. Não há evidências de armas ou estruturas defensivas, portanto se conclui que esta era uma sociedade pacífica. Também não há representações, em sua arte, de guerreiros matando-se uns aos outros, mas pinturas representando a natureza e uma grande quantidade de esculturas representando o corpo feminino.
 
Trazer de volta as divindades e símbolos femininos presentes em diferentes tradições religiosas e culturas é o nosso resgate.
 
Vivenciamos a sacralidade a cada dia de nossas vidas, em um eterno ritualizar de ciclos!!!
 
Oração à Mulher-Deusa
 
"Eu sou a Mãe de todos os seres vivos, a culminação da criação
Eu gero e nutro a vida em mim e tudo o que gerei e pari é bom, muito bom.
Eu me recuso carregar a vergonha do homem no meu corpo,
Eu me recuso perpetuar a fraqueza da mulher na minha vida.
Honre tudo o que foi diminuído, receba tudo o que lhe foi negado,
Pois no início de tudo existia somente a Mãe.
No primeiro dia criei a luz e a escuridão e elas dançaram juntas,
No segundo dia criei a Terra e a água e elas se tocaram entre si,
No terceiro dia criei as plantas e elas enraizaram e suspiraram,
No quarto dia criei as criaturas da terra, do mar e do ar e elas caminharam, nadaram e voaram,
No quinto dia minha criação aprendeu o equilíbrio e a colaboração,
No sexto dia celebrei a fertilidade de todos os seres,
No sétimo dia deixei espaço para o desconhecido,
No início de tudo existia somente a Mãe, a mãe criadora e nutridora de todos nós.
Honre tudo o que foi diminuído, receba tudo o que lhe foi negado
E afirme: Eu sou mulher, eu sou boa, eu sou feliz!
Eu sou a Mãe!" - A consciência do Sagrado Feminino Resgatando o passado, construindo o futuro, Mirella Faur
 
Durante os milénios da supremacia patriarcal, refletida nos valores espirituais, culturais, sociais, comportamentais e amparada pela hierarquia divina masculina, foi negada e reprimida qualquer manifestação da energia feminina, divina e humana. Resultou assim em uma cultura exclusiva e destrutiva, centrada na violência, conquista e dominação, com o consequente desequilíbrio global atual. Os homens - como género - não foram os únicos responsáveis pelas agressões e atitudes extremistas a eles atribuídas; a causa pode ser atribuída à maneira pela qual a identidade masculina foi criada e reforçada pelos modelos e comportamentos de “heróis” e “super-homens”. Fundamentados em seus direitos “divinos”, outorgados inicialmente por deuses guerreiros e depois reiterados pela interpretação tendenciosa dos preceitos bíblicos, os homens foram inspirados, instigados e recompensados para desconsiderar e deturpar as milenares tradições e os cultos geocêntricos. Em lugar de valores de paz, prosperidade e parceria igualitária, foram instaurados princípios e sistemas de conquista, exploração e dominação da Terra, das mulheres, crianças e de outros homens.
 
Pela sistemática  inferiorização  e perseguição da mulher, o patriarcado procurava apagar e denegrir os cultos da Grande Mãe, interditando os seus rituais, “demonizando” e distorcendo seus símbolos e valores. A relação igualitária homem-mulher foi renegada, a mulher declarada um ser inferior, desprovido de alma, amaldiçoado por Deus, responsável pelos males do mundo e por isso destinada a sofrer e a ser dominada pelo homem. O princípio masculino e feminino – antes pólos complementares da mesma unidade – foram separados e colocados em ângulos opostos e antagónicos. Enalteceu-se o Pai, negou-se a Mãe e usou-se o nome de Deus para justificar e promover o código patriarcal, a subjugação e exploração da Terra e das mulheres. A tradição, os cultos e a simbologia da Deusa foram relegados ao ostracismo e paulatinamente caíram no esquecimento. Patriarcado e cristianismo se uniram na construção de uma sociedade hierárquica e desigual, baseada em princípios, valores, normas, dogmas religiosos, estruturas sociais e culturais masculinas.
 
As últimas décadas do século passado proporcionaram uma gradativa mudança de paradigmas nas relações e nos conceitos relativos ao masculino e feminino. No entanto, para que este avanço teórico se concretize em ações e modificações comportamentais e espirituais, é imprescindível reconhecer a união harmoniosa e complementar das polaridades e procurar novos símbolos e rituais para o seu fortalecimento e equilíbrio. Com o surgimento progressivo de uma dimensão feminina da Divindade na atual consciência coletiva, está sendo fortalecido o retorno à Deusa e a revalorização do Sagrado Feminino.
 
Somos nós que estamos voltando à Deusa, pois Ela sempre esteve ao nosso lado, apenas oculta na bruma do esquecimento e velada pela nossa falta de compreensão e conexão com seu eterno amor e poder.
 
A principal diferença entre o Pai patriarcal, celeste e a Mãe cósmica e telúrica universal é a condição transcendente e longínqua do Criador e a essência imanente e eternamente presente da Criadora, em todas as manifestações da Natureza.
 
A redenção do Sagrado Feminino diz respeito tanto à mulher quanto ao homem. Ao esperar respostas e soluções vindas do Céu, esquecemos de olhar para baixo e ao redor, ignorando as necessidades da nossa Mãe Terra e de todos os nossos irmãos de criação. Para que os valores femininos possam ser compreendidos e vividos, são necessárias profundas mudanças em todas as áreas: social, política, cultural, econômica, familiar e espiritual.
 
Uma nova consciência do Sagrado Feminino surgirá tão somente quando for resgatada a conexão espiritual com a Mãe Terra, percebida e honrada a Teia Cósmica à qual todos nós pertencemos e assumida a responsabilidade de zelar pelo seu equilíbrio e preservação, como Ser individual e divino.
 
O reconhecimento do Sagrado Feminino deve ser uma busca de todos, porém cabe às mulheres uma responsabilidade maior, devido à sua ancestral e profunda conexão com os arquétipos, atributos, faces, ciclos e energias da Grande Mãe.
 
Uma grande contribuição na transformação da mentalidade do passado e na expansão atual da consciência coletiva são os encontros de homens e mulheres em círculos e vivência comunitária, para despertar e alinhar mentes, corações e espíritos em ações que visem a cura e a transmutação das feridas da psique, infligidas pelo patriarcado.
 
Apaziguar a si mesmo, harmonizar seus relacionamentos, vencer o separatismo, reconhecer e honrar a interdependência de todos os seres, evitar qualquer forma de violência, dominação, competição, manipulação ou discriminação são desafios do ser humano contemporâneo, no nível pessoal, coletivo e global. Incentivando a parceria entre os géneros e a interação dos planos energéticos (celeste e telúrico) criam-se condições que favorecem a expansão da consciência individual e contribuem para a evolução planetária.

Fonte -  Heranças de Amor