domingo, 24 de julho de 2016

A Mulher e a Natureza Sagrada


“As regiões agrestes e ainda intocadas do planeta desaparecem à medida que fenece a compreensão da nossa própria natureza selvagem mais íntima”.  Clarissa Pinkola Estés

Como começou o afastamento da mulher da natureza?

Proponho com esse texto um exercício de máquina do tempo sem sair do lugar. Quem aceitar o desafio vai se perguntar: Quando começou o afastamento da mulher da natureza?
O afastamento da mulher da natureza é muito antigo. Ele tem início na formação da sociedade patriarcal e na formação do Cristianismo.
Esse último, transferiu a consciência da Grande Mãe, totalmente identificada com a terra para a adoração da Virgem Maria, Rainha do céu. Foi o triunfo de um Deus Pai supremo. Perdemos a confiança na terra que a Mãe nos proporcionava.
Historiadores da religião concordam que na época em que a Grande Mãe era adorada, os seres humanos viviam em maior harmonia consigo mesmos e com a própria força vital. Infelizmente a religião nos fez crer por muito tempo que tudo que é divino é masculino e está fora de nós, lá longe, no céu.

Enquanto a Grande Mãe era cultuada a mulher vivia em total  comunhão com a natureza e seus ciclos de vida, morte e vida, pois ela vivia na natureza e da natureza. Plantava, colhia e produzia o próprio alimento. O pão, a cerveja e o vinho. Tecia e fiava a própria roupa bem como seu destino. Era curandeira e parteira. Conhecia as ervas medicinais e com elas cuidavam dos homens, dos filhos e de sua comunidade. Sangrar era sagrado e não sujo. Estavam ligadas ao céu (fases da lua) e a terra fertilidade. Mais de 2 mil anos de cultura patriarcal acabou por nos afastar da consciência da Deusa Mãe criadora, mas que isso nos afastou da consciência da nossa natureza igualmente geradora de vida.

Segundo Clarissa Pinkola Estés, autora do livro “Mulheres que Correm com Lobos” o desmatamento das florestas está intimamente relacionado a morte da nossa natureza instintiva dentro da psique feminina. A natureza assim como, os lobos, ursos, coiotes e as mulheres rebeldes foram perseguidos por não se deixar controlar com facilidade. Infelizmente nossa cultura fez questão de perseguir e erradicar tudo o que era instintivo.

Parte do trabalho com esse livro consiste em aprender a desconfiar de verdades prontas, saber que a maioria das coisas não é o que parece. Aprender o oficio de perguntar. Olhar para nossa história com coragem entendendo e respeitando nossas experiências afinal elas nos trouxeram até aqui.

Agora para finalizar nosso exercício de máquina do tempo voltemos para o presente. Já estamos em um novo ciclo. Nele dialogamos sobre o retorno da Deusa e nossa sagrada ligação com a terra.  A supremacia patriarcal manifesta sintomas de falência espiritual. Vemos em toda parte um enorme ressurgimento da consciência matriarcal. Isso nos indica que estamos fazendo o caminho de volta para casa. De olhos bem abertos para nossa capacidade de gerar vida, lançar sementes e confiar na nossa natureza selvagem que sabe instintivamente o que precisa morrer, o que precisa permanecer.  Voltemos a dançar com a vida, com a morte e de volta a vida!

Não fomos feitas para ser franzinas, de cabelos frágeis, incapazes de saltar, de perseguir, de parir, de criar uma vida. Quando as vidas das mulheres estão em êxtase, tédio, já está na hora de a mulher selvática aflorar. Chegou a hora de a função criadora da psique fertilizar a aridez.  - Clarissa Pinkola Estés

Juliana Carneiro