terça-feira, 20 de fevereiro de 2018

Bastet e os mistérios felinos


O gato hoje em dia é um animal totalmente inserido no nosso cotidiano. Pode-se dizer que de todos os animais domesticados pelo ser humano, os gatos estão entre aqueles que decisivamente mais nos encantam. Ao lado do cão, o nosso “fiel companheiro”, os gatos têm aparecido cada vez mais no convívio social. Mas, o que de fato, fascinava tão intensamente os antigos egípcios neste animal tão gracioso?
Por um lado,  estimados e por outro, temível, diferentes culturas conceberam no gato uma miríade de teorias e mitos. Na história da mitologia egípcia, africana, oriental, na antiga Europa, o gato sempre foi considerado como representação simbólica de aspectos da divindade, por vezes, solar e lunar. Porém, foi na concepção medievalista da cristandade que o gato adquiriu, contudo, seu aspecto “malévolo”, associando-o rapidamente ao “diabo”. Por isto, nesta mácula e estigma criada pela teologia cristã, que o gato até hoje é visto por alguns como mau augúrio e em casos… maléfico.

História de Bastet

Assim, muitos milênios antes da era cristã, nas margens do Rio Nilo, surgia uma divindade radiante e opulenta: Bastet, a “divindade” gata. Bast, Baast ou Bastet era o nome dado ao símbolo feminino onde sacerdotisas e sacerdotes dedicavam todas as manhãs oferendas de sândalo e óleos perfumados em seus templos espalhados por Khemet (Egito), a Terra Negra – a Senhora dos Ungüentos. Identificada com a estrela Sírius, o Sol por detrás do Sol, ela também representava a harmonia cósmica, criando uma ponte de comunicação entre o micro e o macrocosmo.
Surgida nos primeiros relatos em hieróglifos na segunda dinastia (2890-2686 a.c.), sabe-se que sua origem é muito mais remota. Por um lado, Bastet também poderia ser representada como perspectiva ou qualidade de Sekhmet, sua contraparte felina mais feroz e violenta. Alguns historiadores poderão afirmar que cada divindade poderia ser considerada como dois lados da mesma moeda. Independente, Bastet possuía seu próprio culto e na antiga cidade de Bubastis (atual Zagazig, no Delta do Nilo), manifestava-se toda a sorte de peregrinos, rituais e seus “filhos” e “filhas”: foram encontradas milhares de múmias de gatos que foram enterrados no antigo templo, em sua honra.

Lendas & Histórias

Há muitas lendas sobre a adoração dos egípcios sobre Bastet, sendo uma delas que conta que frente aos persas, em batalha, o inimigo portava entre seus escudos gatos vivos (!), os soldados egípcios, por vezes, eram incapazes de avançar, pois como contam os historiadores, os egípcios preferiam se render do que castigar qualquer gato. Outra história interessante relata o caso de um soldado romano, durante a dominação no território egípcio, que ao ver um gato perdido na rua, o matou. O povo inquietou-se com tal ato que rogou aos seus opressores, que pelo menos, castigassem àquele que havia feito mal ao gato – e, assim foi feito.

Ritos de Bastet

Sua imagem antropomorfa era moldada na figura de uma cabeça felina com corpo de mulher, ou simplesmente, uma gata. Bastet simbolizava os raios e emanações solares, que irradiava de felicidade e alegria o mundo. Leal protetora dos lares e dos afazeres cotidianos, ela também tinha o dom de ser a guardiã de todas as mulheres, principalmente as grávidas, crianças, mães, cujo poder precipitava-se sobre o caos ou os maus fluidos.
Ao portar um leve sistro (pequeno instrumento musical percussivo semelhante a um chocalho de metal), ela conduzia um séquito de dançarinas e músicos que animavam os rituais com muita música e alegria. Nas Casas da Vida (Per-Ankh), Bastet era patrona suprema da felicidade e abundância, por isto, diversas casas e templos eram chamados de Per-Bastet ou “Casa de Bastet”.
Invocada em rituais específicos onde apenas mulheres poderiam estar presentes, Bastet estava presente nos ritos de fertilidade. Para os dias de hoje, a sua simbologia permanece viva nas tradições neopagãs ou do reconstrucionismo khemita.
Por Pablo Al Masrii